Acelerando a eliminação de doenças
Capítulo 2. Progresso regional rumo às metas de eliminação
Resumo
Desde 2022, grandes cargas de doença persistem na Região, incluindo milhões de pessoas em risco de contrair uma das mais de 30 doenças e condições relacionadas que são o alvo da Iniciativa de Eliminação de Doenças. O progresso rumo às metas de eliminação varia muito segundo as doenças e os países. Sete doenças foram eliminadas em toda a Região, incluindo a poliomielite e várias outras doenças imunopreveníveis. Outras doenças, como malária e oncocercose, bem como a transmissão materno-infantil de HIV e sífilis, foram eliminadas em alguns países. Entretanto, muitas doenças — como câncer do colo do útero, tuberculose, hepatite viral, HIV/aids, doenças infecciosas negligenciadas e zoonoses — ainda requerem esforços consideráveis para que as metas de eliminação sejam atingidas. Entre os fatores que minam o progresso estão a pobreza, a falta de acesso a serviços de saúde e saneamento e os desafios ambientais. Medidas governamentais e intersetoriais garantirão o acesso a serviços de prevenção, rastreamento e tratamento para as populações afetadas por todas as doenças e condições da iniciativa.
Situação das metas de eliminação na Região das Américas
A OPAS está monitorando o progresso em relação a indicadores e metas específicas para cada uma das doenças e condições — mais de 30 — incluídas na Iniciativa de Eliminação de Doenças. O portal de dados regionais inclui definições, indicadores e metas de eliminação para cada doença e condição da iniciativa. Até o final de 2024, a OPAS aprimorará o processo de monitoramento para incluir indicadores a fim de acompanhar o progresso das quatro linhas de ação. Isso fornecerá uma visão geral e abrangente do progresso e do impacto em nível nacional e regional, indo além de métricas agregadas por doenças.
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Quadro 6. É preciso abordar cada uma das mais de 30 doenças e condições em cada país e território da Região das Américas?
Nem todas as metas relacionadas às doenças serão relevantes para todos os países e territórios. A Região é diversa, com uma variedade de climas, comunidades, desigualdades e fatores de risco que tornam determinadas doenças mais prevalentes em algumas áreas. Embora algumas doenças, como infecções sexualmente transmissíveis e hepatite viral, sejam relevantes para todos os países e territórios, outras não o são. Por exemplo, doenças transmitidas por vetores, zoonoses e doenças infecciosas negligenciadas afetam apenas determinados países ou áreas e populações específicas dentro deles. Portanto, cada país deve adaptar ações integradas e roteiros rumo à eliminação com base na presença de cada doença nos diferentes contextos das populações dentro do território nacional.
A Iniciativa de Eliminação de Doenças abrange um grupo diverso de doenças e condições que são alvo para eliminação ou, no caso das que já foram eliminadas, que precisam manter o status de eliminação. A Figura 4 enumera as doenças e condições e mostra o número de países e territórios, do total de 49 países e territórios da iniciativa, onde cada uma dessas doenças e condições está presente.
Figura 4. Número de países e territórios para cada doença e condição da Iniciativa de Eliminação de Doenças
Em números
Carga de doenças selecionadas na Região das Américas em 2022
Mais de 45 milhões de crianças
Mais de 45 milhões de crianças com menos de 15 anos de idade estavam em risco de contrair parasitoses intestinais
Mais de 21 mil casos novos
Mais de 21 mil casos novos de hanseníase foram notificados
Mais de 3,9 milhões de pessoas
Mais de 3,9 milhões de pessoas estavam vivendo com HIV/aids, com cerca de 170 mil novas infecções naquele ano
Mais de 78 mil mulheres
Mais de 78 mil mulheres foram diagnosticadas com câncer do colo do útero
1,6 milhão de pessoas
1,6 milhão de pessoas estavam em risco de contrair esquistossomose
480 mil casos
480 mil casos de malária foram notificados
Na seção a seguir, são apresentados dados sobre as doenças e condições da Iniciativa de Eliminação de Doenças com base nas seguintes categorias: 1) as metas foram atingidas; 2) as metas quase foram atingidas; e 3) as metas ainda não foram atingidas.
https://www.paho.org/es/portal-datos-eliminacion
Acesse o portal de dados regionais para encontrar informações atualizadas e uma visão abrangente do progresso rumo à eliminação de mais de 30 doenças transmissíveis e condições relacionadas na Região das Américas até 2030. Clique na guia “Indicators and Targets” para obter informações detalhadas sobre os indicadores de eliminação e as metas de específicas para cada doença e condição.
Doenças e condições para as quais as metas de eliminação foram atingidas
Doenças eliminadas em toda a Região
Sete doenças foram eliminadas na Região das Américas, incluindo a dracunculíase e seis doenças imunopreveníveis (varíola, poliomielite, rubéola, rubéola congênita, sarampo e tétano neonatal). O êxito da eliminação regional dessas doenças foi obtido por meio de imunização em massa, fortalecimento da vigilância, educação em saúde pública e colaboração internacional para apoiar os esforços de diferentes países.
A Região registrou seu último caso de poliomielite em 1991 e, em 1994, tornou-se a primeira região do mundo a ser certificada como livre da doença. Em julho de 2022, um paciente não vacinado, sem histórico de viagens recentes, foi diagnosticado com poliomielite derivada de vacina nos Estados Unidos, o que desencadeou uma resposta imediata. Embora o risco de reintrodução da poliomielite esteja diminuindo na Região, a baixa cobertura vacinal aumenta a probabilidade de mutação do poliovírus, o que pode resultar em uma cepa capaz de causar infecção e paralisia. A cobertura regional da terceira dose da vacina contra a poliomielite foi de 87% em 2023, um aumento em comparação com a taxa de 80% a 83% nos três anos anteriores. Entretanto, apesar desse progresso, alguns países ainda não atingiram a meta recomendada de cobertura vacinal de 95% em nível nacional (1).
Após uma década de campanhas de vacinação que alcançaram cerca de 250 milhões de pessoas em 32 países, os últimos casos de rubéola endêmica na Região das Américas foram notificados em 2009. A Região foi certificada como livre da rubéola endêmica em 2015. A proporção de crianças que receberam a primeira dose da vacina contra sarampo, caxumba e rubéola foi de 87% em 2023, maior do que a taxa de 84% de 2022. Entretanto, essa taxa ainda não atingiu o ideal recomendado pela OPAS, ou seja, pelo menos 95% de cobertura (2).
A Região foi certificada como livre de sarampo em setembro de 2016, a única região do mundo a atingir essa meta. Desde então, a doença reapareceu em 14 países, incluindo a República Bolivariana da Venezuela e o Brasil, onde a transmissão endêmica foi restabelecida em 2018 e 2019, respectivamente. A República Bolivariana da Venezuela foi recertificada como um país livre do sarampo endêmico em novembro de 2023. O Brasil interrompeu a circulação do vírus em julho de 2022 e está aguardando recertificação pela Comissão Regional.
A Região eliminou o tétano materno e neonatal em 2017. Em 2022, foram notificados sete casos de tétano neonatal na Região. Em 2023, a cobertura regional da terceira dose da vacina contra difteria, tétano e pertússis foi de 88%, maior do que a cobertura de 84% registrada em 2022.
Também houve progresso significativo na eliminação de doenças transmitidas por vetores na Região. Desde 2008, não houve nenhum caso de febre amarela urbana transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, embora uma série de fatores ameace a manutenção do status de eliminação. A urbanização, o desmatamento e a mudança do clima ampliam os habitats e as épocas de reprodução dos mosquitos. O movimento populacional e a cobertura vacinal inadequada aumentam a propagação do vírus. Eliminar a epidemia de febre amarela requer uma expansão da vacinação, melhoria da vigilância, controle de mosquitos, vigilância de epizootias, melhoria das plataformas laboratoriais, intercâmbio de informações em tempo real entre países e sistemas de saúde pública mais fortes.
Doenças eliminadas em alguns países
A malária foi eliminada em 19 países. Entre 2000 e 2022, a Região fez um bom progresso na redução da carga dessa doença: os casos de malária diminuíram em aproximadamente 64% (de 1,5 milhão para 550 mil), e o total de mortes foi reduzido em 60%, passando de 850 para 343. Os últimos países certificados como livres da malária foram Paraguai (2018), Argentina (2019), El Salvador (2021) e Belize (2023) (3).
A Região também progrediu em termos de transmissão materno-infantil (TMI) de doenças, principalmente nos países e territórios do Caribe. A eliminação da TMI de sífilis e HIV foi alcançada em 11 países e territórios (Anguila, Antígua e Barbuda, Belize, Bermuda, Cuba, Dominica, Ilhas Cayman, Jamaica, Montserrat, São Cristóvão e Névis e São Vicente e Granadinas).
Também houve progresso na eliminação de zoonoses e doenças infecciosas negligenciadas. A transmissão da febre aftosa foi interrompida em 12 dos 18 países onde essa doença ocorre. A oncocercose (cegueira dos rios) foi eliminada em quatro (Colômbia, Equador, Guatemala e México) dos seis países endêmicos da Região, os únicos no mundo a atingir as metas de eliminação. Três países foram retirados da lista da OMS de países endêmicos para filariose linfática em 2011 (Costa Rica, Suriname e Trinidad e Tobago), e o Brasil recebeu a validação da eliminação em 2024. Enquanto isso, a República Dominicana interrompeu o tratamento em massa (TM) da doença em 100% da área endêmica, e dois países continuam endêmicos (Guiana e Haiti). Três países (Chile, Paraguai e Uruguai) interromperam a transmissão da doença de Chagas por vetores, e todos os países endêmicos da Região realizam o rastreamento universal de doadores de sangue e hemoderivados para prevenir a transmissão da doença. O tracoma foi eliminado no México (um dos quatro países endêmicos da Região) em 2017. Além disso, em 2019 o México se tornou o único país do mundo a alcançar o marco de eliminar a raiva humana transmitida por cães.
Também houve um progresso significativo na eliminação da cólera nos últimos 15 anos. Entretanto, embora 47 países e territórios tenham atingido suas metas de eliminação, o ressurgimento da bactéria Vibrio cholerae O1 no Haiti no final de 2022 está ameaçando as metas regionais. Isso demonstrou o risco de reemergência da cólera a partir de reservatórios ambientais. Em 2023, o Haiti e a República Dominicana notificaram 56 355 e 149 casos, respectivamente. No Haiti, a atual crise humanitária e de segurança dificultou o rastreamento dos casos de cólera, pois as pessoas tinham acesso limitado a estabelecimentos de saúde e testagem. A eliminação efetiva da cólera e a manutenção do status de eliminação requerem uma vigilância robusta e notificação de casos em tempo hábil, além de uma melhor infraestrutura de água e saneamento e campanhas de educação pública.
De 1900 a agosto de 2024, houve 499 “eventos de eliminação” na Região das Américas. O evento de eliminação ocorre quando um país ou território consegue eliminar uma doença ou condição. Para proteger as conquistas da Região, cada Estado Membro precisa fortalecer os sistemas de monitoramento, dar continuidade aos programas de vacinação (principalmente entre as comunidades com baixa cobertura vacinal), combater informações falsas e colaborar com diferentes setores para reduzir o impacto da mudança do clima, que poderia trazer de volta algumas doenças. É crucial abordar aspectos sociais, econômicos e culturais das comunidades. Para tanto, é necessário envolver as comunidades, não apenas conscientizando sobre o risco de doenças e enfatizando a necessidade permanente de medidas preventivas, mas também melhorando sua participação no desenvolvimento de programas e atividades de saúde.
Doenças e condições para as quais as metas de eliminação quase foram atingidas
No caso de algumas doenças e condições, os dados mostram que as metas de eliminação foram atingidas em alguns países, mas que o processo de certificação, verificação ou validação ainda não foi concluído.
Vários países estão perto de eliminar algumas zoonoses e doenças infecciosas negligenciadas. Dados atuais sugerem que a transmissão da bouba foi interrompida em toda a Região, mas nenhum país, fora o Equador, confirmou esse fato ainda. Embora as notificações de bouba tenham diminuído significativamente após 1970, muitos países interromperam a vigilância necessária para detectar um ressurgimento e certificar a eliminação da doença. Apesar de a Colômbia ter notificado casos confirmados de bouba pela última vez em 1992 e o Haiti, em 2015, ambos os países notificaram casos suspeitos à OPAS entre 2014 e 2017. A confirmação da ausência da doença nesses dois países requer uma análise de registros anteriores, coleta de novas informações e realização de pesquisas clínicas e sorológicas em áreas anteriormente endêmicas.
A raiva humana transmitida por cães está perto de ser eliminada em 37 países e territórios. As ações para a eliminação dessa doença na Região das Américas começaram em 1983, com o lançamento de um programa regional contra a raiva. Desde então, a incidência na Região foi reduzida em cerca de 98%, de 300 casos notificados em 1983 para cinco casos em 2023. Esse progresso é o resultado de campanhas de vacinação em massa de cães em nível regional, esforços de conscientização, maior disponibilidade de profilaxia pré e pós-exposição, melhor qualidade dos tratamentos imunobiológicos e fortalecimento das capacidades de vigilância e diagnóstico dos países.
A febre aftosa está perto de ser eliminada em 12 países. Em particular, a América do Sul está livre da febre aftosa há mais de uma década e está caminhando rumo à erradicação. Os últimos surtos registrados na América do Sul ocorreram em 2017 e 2018 na Colômbia e estavam supostamente associados à introdução ilegal de animais na fronteira com a República Bolivariana da Venezuela. A Colômbia foi novamente declarada livre da febre aftosa com vacinação em 2020. O progresso rumo à interrupção da transmissão (o que contribui para a meta de erradicação) da febre aftosa na América do Sul é o resultado de medidas de prevenção, vigilância e controle, como vacinação de animais, detecção precoce e controle rápido de surtos.
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Embora os países envolvidos não tenham confirmado, as autoridades sanitárias suspeitam que nove países e territórios do Caribe (Antígua e Barbuda, Guadalupe, Martinica, Montserrat, Porto Rico, República Dominicana, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis e Sint Maarten) eliminaram a esquistossomose, com o último caso humano notificado em 2010. O Chile está reunindo dados e harmonizando seus procedimentos com os da OMS para documentar sua situação em relação ao cumprimento dos marcos de interrupção da transmissão e eliminação da hanseníase. No Brasil, a peste está perto de ser eliminada, e nenhum caso é notificado há vários anos. Em 2023, o Suriname estava perto de completar três anos sem transmissão autóctone de malária, uma condição necessária para solicitar a certificação da OMS.
A eliminação da transmissão materno-infantil da hepatite B está perto de ser alcançada em 17 países. A prevalência da hepatite B na Região diminuiu nas últimas décadas, principalmente devido à introdução da vacina contra a hepatite B no início dos anos 1990. Estima-se que a prevalência da infecção crônica por hepatite B entre crianças menores de 5 anos na Região das Américas seja <0,5%, a mais baixa entre as regiões da OMS, o que torna viável eliminar a transmissão vertical e a transmissão na primeira infância do vírus da hepatite B.
A Região também progrediu rumo à eliminação de dois fatores de risco ambientais incluídos na Iniciativa de Eliminação de Doenças: 20 países estão perto de eliminar a defecação a céu aberto, e 13 países estão perto de eliminar o uso doméstico de combustíveis poluentes.
Nos próximos anos, é possível que se observem até 152 eventos de eliminação. A Região tem um grande potencial para acelerar os esforços e atingir as metas de eliminação de doenças e condições que estão prestes a ser eliminadas. Para algumas das doenças e condições mencionadas acima, a confirmação da situação epidemiológica atual é uma etapa fundamental, pois a OPAS e os Estados Membros suspeitam que a eliminação já tenha sido alcançada. Para outras, a eliminação de lacunas nas intervenções, o aumento da vigilância e a compilação de evidências são os componentes essenciais que faltam para alcançar o marco final.
Doenças e condições para as quais as metas de eliminação ainda não foram atingidas
No caso de algumas doenças — como câncer do colo do útero, tuberculose, hepatite C, hepatite B, HIV/aids, meningite bacteriana e infecções sexualmente transmissíveis —, nenhum dos países da Região atingiu ainda as metas de eliminação. Em vários países, eliminar a transmissão materno-infantil de HIV, sífilis, hepatite B e doença de Chagas segue sendo um desafio, bem como a eliminação da malária, cólera, defecação a céu aberto e uso doméstico de combustíveis poluentes. As zoonoses e doenças infecciosas negligenciadas continuam afetando milhões de pessoas em toda a Região, sobretudo as que carecem de acesso a serviços básicos, como saúde, educação, água e saneamento.
Em 2022, mais de 78 706 mulheres na Região das Américas foram diagnosticadas com câncer do colo do útero, resultando em quase 40 135 mortes. A cobertura vacinal contra o papilomavírus humano (HPV), essencial para a prevenção do câncer do colo do útero, varia drasticamente, de 2% em alguns países a 87% no Canadá. As barreiras para uma maior cobertura vacinal incluem políticas e problemas de acesso, além de concepções errôneas sobre a vacina. A testagem de HPV no âmbito da estratégia de “rastrear e tratar” é efetiva, mas sua adoção é lenta em razão do custo e da logística. Aumentar o acesso por meio de incidência política, compras conjuntas (inclusive através do Fundo Estratégico da OPAS) e do apoio sustentado é fundamental para o progresso. Além da vacina contra o HPV, a eliminação do câncer do colo do útero como problema de saúde pública requer rastreamento e tratamento de lesões pré-cancerosas, detecção precoce e tratamento imediato de cânceres invasivos e cuidados paliativos.
Em 2022, a tuberculose foi a segunda principal causa de morte por um único agente infeccioso no mundo (atrás somente da COVID‑19). Na Região das Américas, mais de 325 mil pessoas continuam adoecendo com tuberculose todos os anos; dessas, 83 mil permanecem sem diagnóstico e sem tratamento (4, 5). Também em 2022, mais de 240 mil pessoas com tuberculose na Região tiveram acesso a diagnóstico e tratamento, o maior número nos últimos 20 anos, o que reflete os esforços significativos que estão sendo envidados pelos países. Entretanto, a incidência estimada de tuberculose e o número estimado de mortes continuam a aumentar. Embora a Região tenha se recuperado das interrupções nos serviços de tuberculose causadas pela pandemia de COVID‑19, a taxa de mortalidade por tuberculose atingiu valores que não eram vistos há mais de uma década, ceifando mais de 35 mil vidas em 2022 (6). Para eliminar a tuberculose, os países precisam acelerar novas tecnologias, como radiografia auxiliada por inteligência artificial para rastreamento da tuberculose, e ampliar as intervenções existentes, como testes rápidos moleculares, tratamento preventivo e tratamentos totalmente orais encurtados. Entretanto, para assegurar que essas tecnologias cheguem às comunidades mais desassistidas e remotas, é fundamental enfrentar os determinantes sociais subjacentes de saúde. Isso permitirá que os países concentrem esforços em levar a detecção e o tratamento da tuberculose mais para perto das pessoas em situação de vulnerabilidade.
Na Região das Américas, estima-se que 5 milhões de pessoas tinham infecção crônica pelo vírus da hepatite B, e cerca de 20 mil morreram por causas relacionadas à doença em 2022 (7).
Dados do 2022 mostram grandes variações nas taxas de hepatite B na Região: o Haiti apresenta a taxa mais alta, seguido de um grupo de países caribenhos com taxas semelhantes (Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Dominica, Jamaica e Santa Lúcia). Quanto à hepatite C, estima-se que 5,3 milhões de pessoas tivessem a doença e 38 mil tenham morrido por causas relacionadas à hepatite C. A taxa mais alta de hepatite C foi registrada na República Bolivariana da Venezuela, seguida de Cuba e São Cristóvão e Névis. Acelerar medidas para melhorar a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das hepatites B e C é fundamental para alcançar a eliminação.
No âmbito da Iniciativa de Eliminação de Doenças, os indicadores de monitoramento do HIV incluem mortes relacionadas à aids e taxa de incidência. Em 2023, estima-se que 4 milhões de pessoas viviam com HIV/aids na Região das Américas e 2,9 milhões recebiam terapia antirretroviral (TARV) (8). Apesar disso, estima-se que 11% das pessoas com HIV na Região não sabem que estão infectadas, e cerca de um terço é diagnosticado tardiamente com doença avançada (8, 9). Estima-se que o número de novas infecções na América Latina tenha aumentado 9% de 2010 a 2023, com aproximadamente 120 mil infecções novas em 2023. Enquanto isso, de 2010 a 2023 houve uma redução de 22% no Caribe, passando de 19 mil casos novos estimados para 15 mil por ano (8, 10). Segundo estimativas de 2021, três populações-chave (homens que fazem sexo com homens, mulheres transgênero e mulheres profissionais do sexo) representam 60% das novas infecções na América Latina e 44% das novas infecções no Caribe (8). Para acelerar a eliminação do HIV, são necessárias ações urgentes, como fortalecer o acesso à TARV, ampliar a testagem, assegurar a disponibilidade de profilaxia pré-exposição, oferecer educação sexual, implementar intervenções de mudança de comportamento e enfrentar o estigma, a discriminação e outras barreiras estruturais.
A eliminação da transmissão materno-infantil de HIV, sífilis, hepatite B e doença de Chagas continua sendo um grande desafio na Região das Américas. Embora 11 países e territórios tenham eliminado a transmissão materno-infantil de sífilis e HIV, em 2022 estimava-se a existência de 183 mil gestantes com sífilis e 68 mil casos de sífilis congênita na Região (11). A taxa estimada de transmissão vertical de HIV na América Latina e no Caribe é de 15%. Apesar do progresso regional na eliminação da transmissão materno-infantil da hepatite B, estima-se que 34 mil crianças menores de 5 anos na Região tinham hepatite B crônica em 2022. Os sistemas de saúde materno-infantil de toda a Região precisam enfrentar a transmissão da mãe para o bebê, inclusive aumentando a conscientização sobre essas doenças, aumentando a cobertura de testagem e tratamento maternos (quando for o caso), melhorando a vacinação e assegurando práticas de parto seguras.
Embora 19 países tenham atingido as metas de eliminação e alguns países e territórios, como Costa Rica, Equador, Guiana Francesa, México, República Dominicana e Suriname, estejam no caminho certo rumo à eliminação após um progresso significativo na redução da transmissão, a malária continua sendo um problema de saúde pública na Região, principalmente em comunidades rurais e empobrecidas. Em 2022, foram notificados cerca de 482 mil casos confirmados e 89 mortes na Região das Américas. Até esse ano, três países (Brasil, Colômbia e República Bolivariana da Venezuela) respondiam por um percentual estimado de 73% de todos os casos na Região (3). A eliminação regional da malária enfrenta vários desafios, incluindo o aumento da atividade de mineração de ouro, o movimento de pessoas por motivos sociais e econômicos e o acesso limitado à atenção à saúde para migrantes, populações de difícil acesso e grupos marginalizados. Para que a eliminação seja efetiva, é preciso uma ação intersetorial eficaz a fim de enfrentar as barreiras existentes de acesso ao diagnóstico e tratamento da malária nas comunidades afetadas.
Treze zoonoses e doenças infecciosas negligenciadas estão incluídas na Iniciativa de Eliminação de Doenças. Três delas (peste, febre aftosa e bouba) estão quase eliminadas ou há suspeitas de que estejam totalmente eliminadas. O progresso com relação às demais doenças é detalhado a seguir.
A cada ano, são notificados mais de 20 mil casos de hanseníase na Região das Américas, 90% deles no Brasil. Dezessete países têm em média menos de 10 casos notificados por ano e estão no rumo certo para potencialmente interromper a transmissão nos próximos anos (Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Chile, Dominica, El Salvador, Granada, Guatemala, Honduras, Jamaica, Nicarágua, Panamá, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas e Uruguai). Além disso, oito países (Estado Plurinacional da Bolívia, Costa Rica, Equador, Guiana, Haiti, Peru, Suriname e Trinidad e Tobago) estão em boas condições de fazer avanços significativos rumo à eliminação da hanseníase caso intensifiquem seus esforços, já que notificaram em média entre 11 e 100 casos por ano.
No Brasil e na República Bolivariana da Venezuela, a transmissão da esquistossomose é generalizada, e cerca de 25 milhões de pessoas estão em risco de infecção. No Suriname, há focos de transmissão da doença. Em 17 países da Região das Américas, as geo-helmintíases representam um problema de saúde pública que afeta quase 46 milhões de crianças menores de 15 anos. Seis países (Belize, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Paraguai e República Dominicana) nos quais cerca de 10 milhões de crianças menores de 15 anos precisam de quimioterapia preventiva estão implementando programas de controle bem-sucedidos, que incluem desparasitação e tratamento anuais.
Na Guiana e no Haiti, apesar do progresso significativo, estima-se que 5,1 milhões de pessoas corram o risco de contrair filariose linfática. O progresso é medido pelo número de distritos que pararam de fazer tratamento em massa (TM). O Haiti passou de 140 comunas que necessitavam de TM para 18 (uma redução de 87,2%), e a Guiana passou de oito regiões com TM para duas (uma redução de 75%). O Brasil, a Colômbia, a Guatemala e o Peru continuam seus esforços para eliminar o tracoma, e estima-se que 5,6 milhões de pessoas necessitam de quimioterapia preventiva. A Guatemala tem condições de atingir a meta de eliminação até 2025, e a OPAS está dando apoio a outros países da Região para determinar se há mais populações em risco, uma etapa necessária para declarar a Região como livre do tracoma no futuro. O último foco remanescente de transmissão ativa da oncocercose se encontra na Terra Indígena Yanomami, na fronteira entre o Brasil e a República Bolivariana da Venezuela, onde aproximadamente 36 mil pessoas ainda precisam de quimioterapia preventiva.
A doença de Chagas é endêmica em 21 países, onde se estima que haja 6 a 8 milhões de pessoas infectadas. Cerca de 30 mil casos novos ocorrem anualmente devido à transmissão por vetores, e outros 9 mil, aproximadamente, se devem à transmissão materno-infantil. Estima-se que 65 milhões de pessoas correm o risco de contrair a infecção e que cerca de 12 mil mortes sejam causadas por essa doença todos os anos, principalmente na Argentina, no Estado Plurinacional da Bolívia e no Brasil. Dezoito países da Região interromperam a transmissão pelo principal vetor doméstico da doença de Chagas em nível nacional, mas ainda há muito a fazer. Embora apenas um país (México) tenha alcançado o status de país livre da raiva humana transmitida por cães, os países do Caribe nunca notificaram a doença, e outros não notificam sua ocorrência há décadas. Apenas quatro países (Estado Plurinacional da Bolívia, Haiti, Peru e República Bolivariana da Venezuela) notificaram mortes humanas devido à raiva transmitida por cães na Região em 2023.
Houve certo progresso no enfrentamento da equinococose/hidatidose cística, com melhorias nas capacidades de eliminação, como no caso da Argentina, do Brasil, do Chile, do Peru e do Uruguai, que incluíram intervenções em seus planos nacionais. Ainda é necessário, porém, aumentar a sensibilidade da vigilância e melhorar a qualidade das informações disponíveis. Principalmente devido ao seu curso crônico e diagnóstico tardio, a equinococose costuma ser cara e complicada de tratar e pode demandar cirurgia extensa e/ou tratamento farmacológico prolongado. A fasciolíase animal está amplamente presente na Região, mas a fasciolíase humana é um problema de saúde pública apenas no Estado Plurinacional da Bolívia e no Peru, onde aproximadamente 250 mil pessoas (principalmente comunidades indígenas) correm risco de infecção devido a determinantes socioeconômicos e culturais. Desde 2007, os esforços anuais de desparasitação do Estado Plurinacional da Bolívia reduziram significativamente a fasciolíase, e é provável que a doença seja eliminada nos próximos quatro anos. O Peru enfrenta fasciolíase humana generalizada em várias regiões, principalmente nas áreas rurais e nos altos Andes.
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Para eliminar as zoonoses e doenças infecciosas negligenciadas, os países precisam melhorar o manejo, o monitoramento e a documentação dos casos, abordando as complicações, prevenindo as incapacidades e combatendo o estigma. Implementar intervenções de base populacional é fundamental. Isso inclui quimioterapia preventiva, melhoria da água e do saneamento, educação sobre higiene, controle de vetores e abordagem dos aspectos sociais, econômicos e culturais das comunidades. Atividades específicas para cada doença, como desparasitação, vacinação de animais e inspeção de alimentos, também são importantes. A adoção de uma abordagem integrada de Saúde Única que englobe seres humanos, animais e o meio ambiente também é fundamental para manter o progresso e atingir as metas eliminação.
Conforme relatado em 2021 pelo Programa de Monitoramento Conjunto da OMS e do Fundo das Nações Unidas para a Infância para o Abastecimento de Água, Saneamento e Higiene, um total de 9,1 milhões de pessoas praticavam a defecação a céu aberto na Região (12). A prática é prevalente principalmente em áreas rurais e urbanas de baixa renda. Em 2022, seis países (Colômbia, Guatemala, Panamá, Peru, República Dominicana e Suriname) relataram que entre 1% e menos de 4% da população praticava defecação a céu aberto, três (Estado Plurinacional da Bolívia, Honduras e Santa Lúcia) relataram proporções entre 4% e 9% e o Haiti relatou 17,7%. É necessário mais apoio para reforçar intervenções relacionadas a água, saneamento e higiene e melhorar o acesso a serviços de saneamento geridos de forma segura, principalmente para pessoas em situação de vulnerabilidade, como comunidades rurais e indígenas.
Quatorze países eliminaram o uso doméstico de combustíveis poluentes, e o uso regional diminuiu em 10 milhões de indivíduos na última década. Entretanto, 74 milhões de pessoas na Região continuavam dependentes de combustíveis poluentes para cocção ou como fonte de aquecimento em 2021. Esse problema afeta principalmente as áreas rurais e urbanas de baixa renda. Em cinco países (Guatemala, Haiti, Honduras, Nicarágua e Paraguai), mais de 30% da população ainda usa combustíveis poluentes. Oito países (Colômbia, Cuba, El Salvador, Equador, República Dominicana, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas e Suriname) estão perto da meta de eliminação (<10% da população usando combustíveis poluentes). Em outros oito países (Belize, Estado Plurinacional da Bolívia, Dominica, Granada, Guiana, Jamaica, México e Peru), a porcentagem está entre 10% e 30%. As áreas rurais (24,9%) são mais afetadas do que as áreas urbanas (3,5%). As soluções incluem a melhoria do acesso à energia limpa, a melhoria da infraestrutura e a conscientização sobre os riscos à saúde e ao meio ambiente.
Como mostram os dados atuais, diversas áreas estratégicas requerem mais esforços para que as metas de eliminação de diversas doenças e condições sejam atingidas. Fatores como a pobreza, a falta de educação e o estigma desempenham papéis importantes na transmissão continuada dessas doenças. O progresso rumo à eliminação depende da ampliação das intervenções para que cheguem às comunidades desassistidas, intensificação dos esforços intersetoriais para reduzir as desigualdades, fortalecimento da atenção primária para a prestação de serviços integrados e promoção de um envolvimento significativo das comunidades.
Lacunas nos dados e nas informações
Embora a Iniciativa de Eliminação de Doenças já tenha começado a avançar na implementação e na mensuração da eliminação de doenças na Região, é importante destacar lacunas nos dados e nas informações que impedem os países de reconhecer todo o potencial da iniciativa. As lacunas de dados nos esforços de eliminação de doenças são multifacetadas, decorrentes de barreiras às tecnologias em saúde e ao acesso sistemático aos dados, bem como de disparidades na atenção em âmbito mundial, na cobertura geográfica e no foco na população. Doenças de grande visibilidade, como HIV, tuberculose e malária, geralmente dispõem de dados mais completos, ao passo que doenças negligenciadas sofrem com a escassez de informações. As áreas urbanas geralmente têm maior disponibilidade de dados em comparação com as regiões remotas, e iniquidades estruturais resultam em vigilância inadequada de determinadas populações, principalmente das comunidades indígenas. Embora os Estados Membros da OPAS tenham progredido na geração de dados em nível nacional, ainda existe uma necessidade premente de dados desagregados de maior qualidade em níveis subnacionais a fim de compreender as tendências, as desigualdades e os impactos demográficos específicos.
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Referências
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